Para responder esta pergunta temos que focar em alguns pontos importantes:
-Usar um equipamento com sistema de alta resolução em modo-B, com transdutor linear de mais de 7 MHz
-Ajustar a profundidade de foco (30-40 mm), posicionando o foco na parede posterior da artéria, ou logo abaixo, otimizar o número de quadros por minuto e configurações de ganho para facilitar a detecção de bordas. O uso da função de zoom não é recomendado, pois a maioria dos estudos que relacionam o EMI com eventos cardiovasculares não utilizaram imagens ampliadas (European Society of Cardiology) (Oxford Academic) .
-Paciente em posição supina, com a cabeça virada para o lado oposto ao exame.
-Medir o IMT em um segmento arterial de 10 mm de comprimento livre de placas ateroscleróticas, com interfaces lumen-intima e media-adventitia bem definidas. A parede posterior da artéria carótida comum (ACC) é preferida (European Society of Cardiology) .
-Medir pelo menos três vezes e calcular a média das medições para melhorar a reprodutibilidade. Evitar medições ponto a ponto; preferir métodos automáticos ou semi-automáticos de detecção (European Society of Cardiology) .
-A posição lateral do transdutor é preferida para melhor resolução de imagem. A artéria deve ser posicionada horizontalmente no setor da imagem para otimizar a visualização da interface lumen-intima.
-Avaliar os segmentos da parede arterial longitudinalmente e perpendicularmente ao feixe de ultrassom. Não é recomendada a insonação a partir de múltiplos ângulos (European Society of Cardiology) (Oxford Academic) .
Interpretação e Valores de Referência
-Valores normais e anormais: Valores normais de IMT são dependentes da idade e do sexo, aumentando com a idade. EMI superior a 0,9 mm é considerado um marcador de dano orgânico assintomático, embora haja variações nos limiares dependendo do grupo etário e outras condições clínicas (European Society of Cardiology) (Radiopaedia) . No Brasil temos o estudo ELSA
-Combinação de dados: A combinação de valores de EMI das artérias carótidas direita e esquerda aumenta a reprodutibilidade da medição.
Manutenção do Equipamento
-Manutenção regular: Usar um phantom de ultrassom a cada seis meses ou anualmente, e após qualquer mudança no sistema, para determinar a precisão e a resolução axial e lateral do transdutor (European Society of Cardiology) (ASEcho) .
Qual a importância da medida do EMI na prática clínica diária? Esta medida ainda é útil?
A medição da espessura médio-intimal da carótida (EMI) continua sendo uma ferramenta relevante na prática clínica para avaliar o risco cardiovascular, apesar dos debates em andamento sobre seu uso rotineiro. De acordo com as diretrizes americanas e europeias, a IMT é um valioso preditor de risco de doença cardiovascular (DCV) e pode ser uma parte importante das estratégias de estratificação de risco e prevenção.
Diretrizes Americanas: O American College of Cardiology (ACC) reconhece a EMI como um preditor de risco cardiovascular. Estudos mostram que reduções na progressão da EMI estão associadas a uma diminuição correspondente no risco de eventos cardiovasculares, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral. Essa correlação foi observada em várias intervenções, incluindo anti-hipertensivos, terapias de redução de lipídios e modificações dietéticas. No entanto, o ACC enfatiza que, embora a EMI seja útil em pesquisas e possa orientar decisões clínicas, não é recomendada rotineiramente para todos os pacientes na prática diária devido à variabilidade na medição e interpretação (ACC, 2024). A presença de placa já reclassifica o paciente quanto a estratificação de risco cardiovascular.
Diretrizes Europeias: A European Society of Cardiology (ESC) também considera a IMT um marcador de aterosclerose e risco cardiovascular. As diretrizes da ESC destacam que valores aumentados de EMI estão associados a maior risco cardiovascular, e um valor acima de 0,9 mm é indicativo de dano orgânico assintomático. Essas medições são particularmente úteis na avaliação de pacientes com risco intermediário, ajudando a identificar aqueles que podem se beneficiar de medidas preventivas mais agressivas (ESC, 2023).
Na prática clínica, as medições de IMT são frequentemente usadas para pacientes com múltiplos fatores de risco cardiovascular, como hipertensão, hiperlipidemia e tabagismo. O teste ajuda na detecção precoce da aterosclerose antes do surgimento de sintomas clínicos, permitindo uma intervenção oportuna e estratégias de redução de risco (Cleveland Clinic, 2023).
Em resumo, a CIMT continua sendo uma ferramenta valiosa em contextos clínicos específicos, particularmente para a avaliação de risco em pacientes com risco cardiovascular intermediário. Ela é apoiada por diretrizes americanas e europeias como um marcador de saúde cardiovascular, embora com cautela em relação ao seu uso rotineiro em todas as populações de pacientes.
Para mais detalhes, você pode consultar as diretrizes e estudos publicados pelo ACC e ESC em seus sites oficiais.
ANA LUIZA ENGELHORN
Especialista em Angiologia pela Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV) com Área de Atuação em Ecografia Vascular pela SBACV/CBR/AMB. Mestrado em Clínica Médica pela UFPR. Professora Adjunta III da Escola de Medicina e Ciências da Vida na PUCPR. Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde PUCPR. Diretora Técnica do Angiolab – Laboratório Vascular Não Invasivo – Curitiba, PR