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FABIOKAMAMOTO

Lipedema existe?

R: Existe! O Lipedema foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde em 2019, então toda uma comunidade médica entende que isto é uma síndrome e foi implementado no CID 11 e adotado pelo Ministério da Saúde em Janeiro de 2023. Quando a gente nega a existência dessa doença, a gente priva uma mulher que sente dor, que tem deformidade, que vai ter uma sequela no joelho, no tornozelo, que vai ter sequelas de distúrbios alimentares – de ter um tratamento. Fazê-la achar que a queixa dela não faz sentido, que a dor que sente é mentira, que o constrangimento que sente é besteira. O diagnóstico é feito a partir da história, exame físico e exames complementares. A história típica é a mulher que diz que quando emagrece não consegue emagrecer de forma igual nas pernas, que fica roxa com facilidade nas pernas, início ou piora dos sintomas em períodos de mudanças hormonais (como gravidez, menstruação). Exame físico: pele mais gelada, nódulos de gordura, equimose, panturrilha disforme sem acometimento de pé, sinal do garrote no tornozelo. Quanto aos exames complementares, eu gosto muito de densitometria de corpo inteiro que chama DXA, que dosa a porcentagem de gordura do corpo. Se essa 34% da gordura total do corpo dela estiver concentrada nos membros inferiores, associado a história e exame físico, é muito sugestivo de lipedema. Outros exame necessários podem ser: linfocintilografia, ultrassom Doppler venoso de membros inferiores e ultrassom ou ressonanância magnética do tecido subcutâneo. 

A porta de entrada dessas pacientes acaba sendo o vascular pela queixa ser principalmente dores nas pernas e roxos fáceis. Depois entra o cirurgião plástico. O vascular introduz o tratamento clínico com: alimentação, atividade física, suplemento, meia elástica e drenagem linfática, ela pode estabilizar e não necessitar de tratamento cirúrgico. Estágios 1 e 2 têm boas respostas apenas com tratamento clínico, mas estágios mais elevados podem se beneficiar de tratamento cirúrgico atrelado ao tratamento clínico. Mas o tratamento é multiprofissional, com vascular, nutricionista, plástico, fisioterapeuta, psicólogo, endocrinologista. 

Quanto à dieta, a mais recomendada é a dieta mediterrânea, que consiste em aumentar o consumo de vegetais, evitar carne vermelha, evitar álcool. Alguns alimentos a gente sabe que tem potencial de piorar o lipedema, como açúcar, farinha de trigo, leite de vaca e álcool. Não é que nunca mais a paciente possa ingeri-los, apenas abster por um tempo e depois reintroduzir de forma gradativa, para paciente ter um parâmetro de como a alimentação e seu corpo funcionam. Quanto à atividade física, estamos falando de pacientes com a maior parte de seu peso corporal em seus membros inferiores, tem tendência maior a lesão em joelho por ter geno valgo e frouxidão dos ligamentos, aumentando chance de condromalácia, artrose e deformidade do joelho e lesões ortopédicas. Então indicamos exercícios de baixo impacto, como exercícios na água. 

Quanto à drenagem linfática, a indicação seria fazer a fisioterapia com manobras antiinflamatórias, como laser e ultrassons, que aliviam os sintomas, mas têm caráter transitório, então toda semana teria de fazer pelo menos uma sessão para controle, mas têm seu papel sim como adjuvante para redução de sintomas, antiinflamatório, redução de volume e melhora estética. 

Quanto à compressão elástica, a depender do grau do Lipedema da paciente em questão, não tem meia que serve. A malha plana acaba sendo melhor do que a malha circular, principalmente para pacientes que maiores deformidades, pois a malha feita em espiral ela garroteia e machuca. 

Quanto temos doença venosa associada, o Guideline Americano publicado na Flebology fala que as varizes devem ser tratadas antes. Mas a cirurgia associada é possível, para aproveitar a mesma anestesia. 

Quando temos graus iniciais e o diagnóstico ainda é impreciso, é válido introduzir o tratamento clínico, visto que o mesmo não traria malefícios, e fazer um teste terapêutico. 

DR. FÁBIO KAMAMOTO

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